domingo, 29 de janeiro de 2012

sobre o filme A Separação (2011), de Asghar Farhadi

Em 2009, saí de uma sessão com falta de ar. Não conseguia mastigar nem engolir aquela história que tinha acabado ver no cinema. O filme era Procurando Elly, do diretor e roteirista iraniano Asghar Farhadi.

A trama aparenta ser simples e descontraída: um grupo de amigos que resolve passar um fim de semana na praia. Porém, um acontecimento inesperado vira a história de cabeça para baixo. Os personagens, com quem o público tentava se simpatizar no início, se tornam confusos e agressivos.

Não tem como ficar angustiado com a falta de comunicação entre os personagens, com as acusações, intrigas de cada um, que se transformam em uma bola de neve de quase duas horas de duração. E haja suspense até a resolução do caso de Elly.

Para mim, o filme foi uma grande surpresa. O público do cinema ocidental não está acostumado com as obras iranianas e os jovens atores representam bem esta sociedade, com cultura e conflitos éticos, que desconhecemos aqui.

Quando vi A Separação, tive o mesmo sentimento de “desconforto bom”. O longa começa ao apresentar Nader (Peyman Moadi) e Simin (Leila Hatami), um casal que discorda em sair do Irã em busca de uma vida diferente. O divórcio, aparentemente pacífico, é a única solução para eles.



Simin resolve deixar a casa e Nader, cujo pai sofre de mal de Alzheimer, vê a necessidade de contratar uma empregada para cuidar dos afazeres domésticos enquanto ele sai para trabalhar.

Desta vez, a empregada doméstica é a nova Elly da trama, que será responsável pelo giro de 180º da história.

O esforçado pai de família se transforma em um monstro; a empregada e seu marido entram em descontrole emocional e acabam questionando sua crença religiosa; e Termeh, a filha do casal que é vivida pela própria filha do diretor, ganha uma maturidade inesperada.

Novamente, a falta de comunicação entre os personagens cria a angústia para o espectador. Ao longo da história, eles começam a se confessar à força e também espontaneamente sobre seus dilemas, como a filha que arranca do pai que ele está mentindo e Simin que descobre através da própria empregada que não foi Nader que a feriu.

Com tantos questionamentos, inclusive envolvendo a Justiça do Irã, não sabemos mais quem está falando a verdade ou mentindo, mas sim que todos são culpados. E não tem assunto mais universal do que esse para ser abordado em um filme.

Assista ao trailer: