sexta-feira, 15 de abril de 2011

sobre o Festival de Cannes 2011


Les jambes des femmes sont des compas qui arpentent le globe terrestre en tout sens, lui donnant son
équilibre et son harmonie (As pernas das mulheres são compassos que vagueiam pelo mundo em todas as direções, trazendo equilíbrio e harmonia). O fotógrafo Jerry Schatzberg já conhecia estas palavras do cineasta François Truffaut quando fez este belíssimo retrato da atriz Faye Dunaway, que foi escolhido para ser o cartaz da 64ª edição do Festival de Cannes.

Um dos mais famosos do mundo, o evento cinematográfico francês acontece de 11 a 22 de maio de 2011. Robert De Niro, homenageado por sua carreira no Globo de Ouro 2011, foi escolhido para ser presidente do júri de longas-metragens, assim como o cineasta francês Michel Gondry presidirá o júri da mostra Cinéfondation e de curtas-metragens. O sérvio Emir Kusturica, diretor do documentário sobre o Maradona, será presidente do júri do Un Certain Regard, enquanto o cineasta Bong Joon-Ho cuidará dos prêmios da Camera D'Or. Abaixo, veja os filmes que foram selecionados para o Festival de Cannes de 2011:

COMPETIÇÃO


Filme de abertura: MIDNIGHT IN PARIS – Woody Allen

LA PIEL QUE HABITO – Pedro Almodóvar
L'APOLLONIDE - SOUVENIRS DE LA MAISON CLOSE – Bertrand Bonello
PATER – Alain Cavalier
HEARAT SHULAYIM (FOOTNOTE) – Joseph Cedar
BIR ZAMANLAR ANADOLU'DA (ONCE UPON A TIME IN ANATOLIA) – Nuri Bilge Ceylan
LE GAMIN AU VÉLO – Jean-Pierre e Luc Dardenne
LE HAVRE – Aki Kaurismäki
HANEZU NO TSUKI – Naomi Kawase
SLEEPING BEAUTY – Julia Leigh
POLISSE – Maïwenn
THE TREE OF LIFE – Terrence Malick
LA SOURCE DES FEMMES – Radu Mihaileanu
ICHIMEI (HARA-KIRI: DEATH OF A SAMURAI) – Takashi Miike
HABEMUS PAPAM – Nanni Moretti
WE NEED TO TALK ABOUT KEVIN – Lynne Ramsay
MICHAEL – Markus Schleinzer
THIS MUST BE THE PLACE – Paolo Sorrentino
MELANCHOLIA – Lars Von Trier
DRIVE – Nicolas Winding Refn

UN CERTAIN REGARD

Filme de abertura: RESTLESS – Gus Van Sant

THE HUNTER – Bakur Bakuradze
HALT AUF FREIER STRECKE – Andreas Dresen
HORS SATAN – Bruno Dumont
MARTHA MARCY MAY MARLENE – Sean Durkin
LES NEIGES DU KILIMANDJARO – Robert Guédiguian
SKOONHEID – Oliver Hermanus
THE DAY HE ARRIVES – Hong Sangsoo
BONSÁI – Cristián Jiménez
TATSUMI – Eric Khoo
ARIRANG – Kim Ki-duk
ET MAINTENANT ON VA OÚ? - Nadine Labaki
LOVERBOY – Catalin Mitulescu
YELLOW SEA – Na Hong-jin
MISS BALA – Gerardo Naranjo
TRABALHAR CANSA – Juliana Rojas e Marco Dutra
L'EXERCICE DE L'ETAT – Pierre Schoeller
TOOMELAH – Ivan Sen
OSLO, AUGUST 31ST – Joachim Trier

FORA DE COMPETIÇÃO

LA CONQUÊTE – Xavier Durringer
THE BEAVER (LE COMPLEXE DU CASTOR) – Jodie Foster
THE ARTIST – Michel Hazanavicius
PIRATES OF THE CARIBBEAN: ON STRANGER TIDES – Rob Marshall

SESSÕES DA MEIA-NOITE

WU XIA – Chan Peter Ho-Sun
DIAS DE GRACIA – Everardo Gout

SESSÕES ESPECIAIS

LABRADOR – Frederikke Aspöck
LE MAÎTRE DES FORGES DE L'ENFER – Rithy Panh
MICHEL PETRUCCIANI – Michael Radford
TOUS AU LARZAC – Christian Rouaud

CINÉFONDATION


CAGEY TIGERS – Aramisova (República Tcheca)
SUU ET UCHIKAWA – Nathanael Carton (Cingapura)
A VIAGEM – Simão Cayatte (Estados Unidos)
BEFETACH BEITY – Anat Costi (Israel)
THE AGONY AND SWEAT OF THE HUMAN SPIRIT – D. Jesse Damazo e Joe Bookman (Estados Unidos)
BENTO MONOGATARI – Pieter Dirkx (Bélgica)
DER BRIEF – Doroteya Droumeva (Alemanha)
DUELO ANTES DA NOITE – Alice Furtado (Brasil)
DRARI – Kamal Lazraq (França)
SALSIPUEDES – Mariano Luque (Argentina)
LA FIESTA DE CASAMIENTO – Gastón Margolin e Martín Morgenfeld (Argentina)
L'ESTATE CHE NON VIENE – Pasquale Marino (Itália)
BIG MUDDY – Jefferson Moneo (Estados Unidos)
AL MARTHA LAUF – Ma'ayan Rypp (Israel)
YA-GAN-BI-HANG – Son Tae-gyum (Coreia do Sul)
DER WECHSELBALG – Maria Steinmetz (Alemanha)

terça-feira, 12 de abril de 2011

morre Sidney Lumet (1924 - 2011)

Eric Kohn, crítico de cinema da revista indieWIRE, escreveu um texto intitulado Apesar de seus grandes esforços, Sidney Lumet foi um brilhante estilista, em homenagem ao cineasta norte-americano, falecido neste sábado (9). Abaixo, reproduzo uma tradução livre do artigo:


Superficialmente, Sidney Lumet não era um cineasta pessoal, mas ele fez filmes intensamente pessoais. Todo mundo tem seus momentos favoritos: o notável drama 12 Homens e Uma Sentença (1957), a fúria de enfrentar um sistema judicial corrupto em Serpico (1973), e a natureza incerta de um cenário de refém em Um Dia de Cão (1975), mantêm um papel central nos bancos de memória da cultura pop americana. Essas ferozes e apaixonantes obras contêm afiadas posturas moralistas implantadas com atemporalidade e resistentes a categorização. No dia de sua morte, aos 86 anos, Lumet não deixou uma marca, deixou várias.

Começando com 12 Homens e Uma Sentença, Lumet fez filmes durante cinco décadas diretas. Em vez de desenvolver lentamente a sua abordagem, ele a reinventou a cada vez. Com a mudança dos tempos e novos cineastas desafiando continuamente as convenções narrativas, a carreira de Lumet manteve-se estável. Sua experiência em teatro e televisão transformou-o em um artesão dedicado e educado em múltiplas formas de dramaturgia, produzindo uma capacidade para descobrir o centro emocional de toda a história que entrou em seu domínio.

Ao contrário de Frank Capra, John Ford e outros cineastas contemporâneos, como Steven Spielberg, nenhuma única qualidade pode descrever toda a gama de criações de Lumet. Apreciar plenamente a sua produção requer uma abordagem microscópica que analisa as diferenças entre cada um de seus filmes. Em geral, ele evitou fazer comédias, mas o humor penetrou na maior parte do seu trabalho. Ele nunca se envolveu com o horror, mas muitas vezes dissecou os aspectos mais assustadores da condição humana. As exigências da história transcenderam as fronteiras do gênero, mas ele se sobressaiu com a narrativa tradicional. Acima de tudo isso, ele queria criar um bom espetáculo.

Qualquer coisa pode acontecer em um filme de Sidney Lumet. Apesar da borda satírica de Rede de Intrigas (1976) que arrancou o desdém prematuro de muitas plateias, mas ganhou um Oscar pela breve atuação de Beatrice Straight, cuja cena de cinco minutos mostra um retrato devastador da frustração conjugal. As cenas iniciais e tensas de Um Dia de Cão logo se tornam cômicas quando o ladrão de banco, vivido por Al Pacino, inultimente luta para desfazer o embrulho de papel e revelar sua arma. O Homem do Prego (1964) lida, ao mesmo tempo, com o trauma pós-Holocausto e com os temas do racismo e do descontentamento urbano. Muitos consideram Lumet a quintessência do diretor novaiorquino, embora sua representação da cidade variasse de projeto para projeto.


Como a carreira de Lumet é anterior à era dos diretores que também se tornaram estrelas, como Martin Scorsese e, mais tarde, Quentin Tarantino, ele nunca teve uma “abordagem de jornaleiro”. Cada filme fala em termos específicos, por isso ele fugiu das perguntas sobre quaisquer afirmações definitivas do seu trabalho. Em 2007, numa entrevista em vídeo com Lumet, recentemente publicada pelo The New York Times, ele emite uma resposta sublime quando perguntado sobre como gostaria de ser lembrado após sua morte. "Eu não dou a mínima", disse ele, uma fala coerente com seu discurso em 2005, quando recebeu um Oscar pelo conjunto da obra: "Eu gostaria de agradecer aos filmes", afirmou. Não era sobre o homem por trás da câmera, mas sim sobre as decisões que ele fez e funcionaram no produto final. No caso de Lumet, muitas vezes funcionaram.

"Bom estilo, para mim, é estilo nunca visto", Lumet escreveu em seu essencial livro Fazendo Filmes (1995), um detalhado guia sobre filmagem e também um livro de suas memórias sobre o showbiz. Audaciosamente “antiautor”, Lumet era uma contradição ambulante, obstinadamente oposto a deixar uma marca em seu trabalho, mas, ainda assim, criando alguns dos momentos mais sensacionais do cinema americano.

Considere a chorosa repartição ao final de 12 Homens e Uma Sentença, o momento enervante “mão-na-espiga” em O Homem de Prego, ou a tomada de grua de revirar o estômago, que desce em direção a Paul Newman assim que o júri anuncia a sua decisão em O Veredicto (1982). Além de truques de câmera, Lumet tinha intensas convicções éticas, o que explica porque Serpico e O Príncipe da Cidade (1981) fazem dramas policiais tão convincentes e atraentes. Isto também explica a doentia fuga de uma família em O Peso de Um Passado (1988), sua última obra-prima. No subvalorizado Bye Bye Braverman (1968), a experiência do pós-guerra judaico-americana, que se manifesta em um trio de fatigados "baby boomers", vem à tona em momentos acentuadamente naturalistas. Esses filmes estão vivos com a complexidade do comportamento humano, um resultado da fluência de Lumet na forma de um filme. Lumet foi, em suma, um estilista contra seus melhores esforços.


Em seus últimos anos, Lumet fez poucos grandes filmes, mas, enquanto se tornava uma figura do passado, ele manteve uma compreensão clara sobre o futuro. Seu papel na arte e no negócio do cinema soou muito mais moderno do que o de muitos diretores jovens. Ele foi um cara que atuou no teatro iídiche durante a Grande Depressão e dirigiu televisão ao vivo na década de 50, ainda assim poderia facilmente ganhar o mérito da gravação de vídeo digital em vez do filme, e passou a última página de seu livro comparando as bilheterias de Batman - O Retorno (1992) e Minha Vida de Cachorro (1985).

Há apenas quatro anos, Lumet conseguiu um extraordinário retorno aos indicados do Oscar, com a aventura criminosa Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto (2007), que chegou aos cinemas no ano em que 12 Homens e Uma Sentença comemorou o seu 50º aniversário. Ambos os filmes tratam o sistema de justiça em tons de cinza provocantes, provando que o diretor não perdeu seu toque. Assim que o Antes que o Diabo começou sua campanha para o Oscar, Lumet assinou um contrato de três filmes que, infelizmente, nunca chegaram a ser concretizados. Mesmo em seus anos de crepúsculo, ele ainda estava firme e forte. Seu legado não mostrou sinais de desistência.

sobre a mostra Cinema Brasileiro: anos 2000, 10 questões

A mostra Cinema Brasileiro: anos 2000, 10 questões traz para os CCBBs do Rio de Janeiro e de São Paulo mais de 60 filmes brasileiros realizados entre 2001 e 2010. Haverá também debate com 40 críticos, professores e pesquisadores sobre algumas das principais tendências e linhas de força observadas neste período da cinematografia nacional.

A mostra acontece em SP entre 13/4 e 1/5; e no RJ entre 26/4 e 8/5.

Patrocinada pelo Banco do Brasil, e com o apoio do Ministério da Cultura, a mostra é organizada pela Revista Cinética, e tem curadoria de Cléber Eduardo, Eduardo Valente e João Luiz Vieira, e produção da Enquadramento Produções, através de Leonardo Mecchi.

No site, você encontra a programação, sinopse de filmes, e tem acesso ao catálogo completo em PDF, além de uma lista de todos os longas feitos no Brasil no período.

http://www.revistacinetica.com.br/anos2000/

sexta-feira, 8 de abril de 2011

sobre o filme A Rede Social (2010), de David Fincher

A Rede Social não merece toda essa fama que leva. Para quem tem no currículo filmes como Seven – Os Sete Crimes Capitais (1995), Clube da Luta (1999) e Zodíaco (2007), David Fincher deixa a desejar nesta história intrigante do bilionário mais jovem do mundo, Mark Zuckerberg, que ganha dinheiro com uma das redes sociais mais populares da internet. Apesar de ter “criado” o Facebook, Zuckerberg não tem vida social. Introspectivo, nerd, gênio em programação de computadores e muito tímido, ele demonstra nervosismo e muitas gotas de suor ao conversar, por exemplo, com a repórter do programa 60 Minutes, da CBS News. Escolhido para interpretá-lo, o ator Jesse Eisenberg também é um tanto quanto esquisito e sempre monossilábico em suas entrevistas.


Talvez pela tentativa de ser fiel ao livro Bilionários por Acaso – A criação do Facebook, de Ben Mezrich, Fincher tenha falhado e criado uma história meio sem sal. O filme possui dois focos principais: os acontecimentos que levaram Zuckerberg a criar o Facebook e as consequências de seus atos. É um filme de tribunal, mas sem o tédio. Nesse sentido, Fincher consegue levar bem o filme, ao intercalar o andamento dos processos e usar momentos e diálogos reais do julgamento.

A Rede Social começa quando Zuckerberg leva um fora de sua namorada super entediada e cria um odiozinho por todas as meninas do âmbito universitário. Assim, ele invade o banco de dados das instituições para selecionar fotos das garotas e inventa o site Facemash, onde elas são comparadas em critérios machistas de beleza. Em uma única noite, o site tem 22 mil acessos – para mostrar como os estudantes têm muita vida social – e derruba a rede da universidade.

Ao saber do fato, os gêmeos playboys Winklevoss (o ator Armie Hammer foi digitalmente duplicado) e o estudante Divya Narendra propõem a criação da HarvardConnection, uma rede social exclusiva para compartilhar fotos e vídeos entre os amigos. Zuckerberg logo topa a parceria e, ao mesmo tempo, faz uma sociedade com seu melhor e único amigo Eduardo Saverin (Andrew Garfield), que vai investir em uma nova ideia sua: o thefacebook. E a trama vai se desenrolar em cima desse “mau caráter” de Zuckerberg, que renderá dois processos multimilionários por omitir os créditos da invenção. Mas o que são esses processos para um bilionário?


Já sem ter grandes amigos, Zuckerberg ganhará uma má influência em sua vida: Sean Parker (Justin Timberlake), criador do site Napster, que derrubou a indústria musical em 2000. Parker é um cara viciado em drogas e totalmente ambicioso. Ele que vai sugerir a mudança de nome para somente Facebook, vai colocar na cabeça de Zuckerberg que ele pode fazer bilhões de dólares com o site e vai excluir o Saverin do negócio.

A Rede Social é um filme sobre incoerências e pode se resumir em uma frase dita pelo próprio protagonista: “se vocês tivessem criado o Facebook, vocês teriam criado o Facebook”. Isto é, mesmo que os Winklevoss tenham tido a ideia original, quem colocou a mão na massa é o Zuckerberg. Não importa se ele fez alguns inimigos no percurso, pois ele continua sendo um gênio da tecnologia, que representa uma geração gananciosa de jovens do século 21. “Amigos, amigos. Negócios à parte”. Talvez o filme funcionasse melhor se fosse um documentário. Veríamos realmente quem são esses estudantes de Harvard, aspirantes a Bill Gates e suas personalidades mesquinhas. Talvez.

Com previsão de estreia para fevereiro de 2012, o próximo projeto de David Fincher é The Girl with the Dragon Tattoo, versão hollywoodiana de Os Homens que não Amavam as Mulheres, baseado na série Millenium, do sueco Stieg Larsson, sobre violência sexual contra mulheres. Com trilha sonora de Trent Reznor, seguindo a mesma parceria de A Rede Social, o filme também conta com Daniel Craig e Rooney Mara (que vive a ex-namorada de Zuckerberg) no elenco. Veremos se, com essa próxima produção, Fincher voltará ao seu estilo original de dirigir filmes como Seven, Clube da Luta e Zodíaco.

Assista ao trailer:

quarta-feira, 6 de abril de 2011

artigo para O Globo

Reproduzo um texto que escrevi para o caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo. Publicado no dia 12 de março de 2011, o artigo se refere a uma geração que trabalha com a crítica de cinema ao mesmo tempo em que tenta emplacar filmes no circuito brasileiro. Este tema também é o do livro-reportagem que escrevi para concluir o curso de Jornalismo da PUC-SP. Clique aqui para ler o livro.

Os críticos-cineastas e o novo cinema brasileiro, por Letícia Mendes

No início da primeira década do século 21, saindo de um panorama dominado por Walter Salles e Fernando Meirelles e no qual a crítica dos grandes jornais estava voltada à prestação de serviços, surge uma geração de jovens cinéfilos cariocas que assumiria um duplo papel de reflexão e produção cinematográfica no Brasil. Esses críticos-cineastas criaram referências fundamentais na crítica do audiovisual brasileiro e renovaram a maneira de fazer filmes no país, vinculando o pensamento à imagem do cinema.

Em 1998, nasce a revista eletrônica Contracampo, tendo como editores o jornalista Ruy Gardnier e Eduardo Valente, estudante de cinema da UFF. A publicação surgia de uma insatisfação com a crítica feita à época na universidade e na grande mídia, cada uma à sua maneira em descompasso com as questões consideradas mais urgentes por essa nova geração. Desavenças fizeram com que parte da equipe se retirasse da revista para fundar em 2006 a Cinética.

Os nomes reunidos em torno das duas publicações dariam início a uma produção cinematográfica logo acolhida e reconhecida em festivais internacionais. A premiação em Cannes de Um Sol Alaranjado, de Valente, em 2002 pode servir de marco dessa nova filmografia, construída por autores que se aproximavam no perfil — a formação crítica e universitária — e na busca por um outro modelo de produção e criação, com baixos orçamentos e trabalho cooperativo. Um grupo formado pelo próprio Valente, Felipe Bragança, Cléber Eduardo, Daniel Caetano e muitos outros, cujos filmes travam um diálogo pouco visto no Brasil com o que há de mais instigante na produção internacional contemporânea e são eles mesmos espaço de reflexão sobre o cinema.

Em sua primeira ida a Cannes, Valente - que também exibiria lá Castanho (2003) e O Monstro (2005) -, se deparou com mais aspirantes a cineastas vindos de lugares muito diferentes, que estavam vivendo o mesmo momento, com o primeiro ou segundo filme, saindo da universidade, sem saber se realmente seriam diretores de cinema. Em 2009, lançou seu primeiro longa-metragem, No Meu Lugar, com roteiro de Felipe Bragança. Apesar de ter filmes prestigiados, hoje Valente se considera mais crítico do que cineasta.

Já Bragança se diz primeiramente um cineasta, apesar de ser convidado por muitos diretores, como o cearense Karim Aïnouz (O Céu de Suely), para escrever roteiros. Felipe foi redator da Contracampo e participou do projeto da Cinética. Também dirigiu três curtas (Por dentro de uma gota d'água, 2003; O Nome Dele (o clóvis), 2004; e Jonas e a Baleia, 2006) e está em fase de divulgação de sua trilogia intitulada Coração no Fogo, sobre a representação da juventude brasileira atual, cujos filmes são A Fuga da Mulher Gorila, vencedor da mostra Aurora em Tiradentes em 2009, A Alegria e Desassossego.

Por meio de um convite de Valente, o jornalista Cléber Eduardo começou a escrever para a Contracampo ao mesmo tempo em que seguia sua carreira como crítico de cinema de grandes revistas. Porém, enveredou-se para a direção de filmes por conta da influência de sua mulher, a cineasta Ilana Feldman, com quem dirigiu os curtas Almas Passantes – um percurso com João do Rio e Charles Baudelaire (2008) e Rosa e Benjamin (2009). Atualmente, Cléber é curador da Mostra de Tiradentes, dá aulas em universidades paulistas e trabalha em projetos de filmes, inclusive ao lado de seus alunos. Também amigo de Valente, o cineasta Daniel Caetano escreveu para as duas revistas virtuais e organizou os livros Cinema Brasileiro 1995-2005 (2005) e Serras da Desordem (2008). Há anos batalha para realizar seus filmes, mas,enquanto os editais não concretizam esse desejo, trabalha como crítico e professor. Em 2007, Daniel lançou seu primeiro longa-metragem co-dirigido durante a faculdade, Conceição – autor bom é autor morto, lançado somente agora em DVD. No momento, ele está filmando seu novo curta com o título de O velho e o novo.

Assim, surge do ramo da crítica de cinema uma nova geração de cineastas teóricos. Dessa turma de jovens críticos nasceram grandes diretores que renovam a maneira de fazer filmes no Brasil vinculando o pensamento à imagem do cinema. Muitas dessas produções são feitas com baixo orçamento ou talvez com nenhum investimento, entretanto ganham cada vez mais destaque internacional. Alguns críticos das revistas virtuais Contracampo e Cinética refletem sobre quase toda a produção mundial e também colocam suas ideias em prática. Os críticos-cineastas reutilizam a palavra na imagem, com abordagens inusitadas e densas. Os nomes citados acima fazem parte do contexto atual do cinema brasileiro. Todos eles estavam presentes na 14ª Mostra de Tiradentes, realizada entre 21 e 29 de janeiro deste ano, seja na curadoria, lançando filmes ou na mediação de debates.

Todos viraram críticos-cineastas por acaso. Ninguém nasceu sabendo que trabalharia com isso, apesar de a cinefilia sempre ter corrido pelas veias. Todos também estão com o futuro aberto. Não têm certeza se vão dirigir filmes ou fazer críticas para o resto da vida. O trabalho que eles propõem é fascinante, além de expandir a noção do que é a crítica de cinema: escrever, realizar mostras e festivais, fazer filmes, ser curador, dar aulas. De certa forma, tornou-se um modo de agir dentro desse meio, com critérios e metas que visam questões estéticas e críticas. Ainda é raro encontrar cineastas brasileiros que tenham sua formação na cinefilia. Estes críticos-cineastas servem de modelo para as futuras gerações, como também já tiveram o exemplo em outros pioneiros da história do cinema brasileiro.

LETÍCIA MENDES é jornalista, autora de "Críticos-Cineastas – perfis da geração Contracampo e Cinética" (inédito)

terça-feira, 1 de março de 2011

sobre Toy Story Hawaiian Vacation

Fãs da animação Toy Story terão uma chance de matar a saudade. Um curta-metragem intitulado Toy Story Hawaiian Vacation será lançado nos cinemas junto com as cópias de Carros 2.

Na história, Barbie e Ken se empolgam com a possibilidade de conhecer o Havaí quando a menina Bonnie viaja para a ilha tropical. Porém, o casal de bonecos é deixado para trás. Para que Barbie e Ken não desconfiem que foram esquecidos, Woody, Buzz e os outros brinquedos têm que recriar o paraíso havaiano dentro de casa.

No Brasil, a animação Carros 2 estreia no dia 24 de junho, em 2D, 3D e Imax 3D. Abaixo, veja um trecho em que o casal Barbie e Ken pensam que chegaram no Havaí:

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Vencedores do Oscar 2011

Direção de Arte
Alice no País das Maravilhas

Fotografia
A Origem

Atriz Coadjuvante
Melissa Leo (O Vencedor)

Animação em Curta-Metragem
The Lost Thing

Animação
Toy Story 3

Roteiro Original
O Discurso do Rei

Roteiro Adaptado
A Rede Social

Filme Estrangeiro
Em um Mundo Melhor (Dinamarca)

Ator Coadjuvante
Christian Bale (O Vencedor)

Trilha Sonora
A Rede Social

Mixagem de Som
A Origem

Edição de Som
A Origem

Maquiagem
O Lobisomem

Figurino
Alice no País das Maravilhas

Documentário em Curta-metragem
Strangers No More

Curta-metragem
God of Love

Documentário
Trabalho Interno

Efeitos Visuais
A Origem

Montagem
A Rede Social

Canção Original
We Belong Together (Toy Story 3)

Diretor
Tom Hooper (O Discurso do Rei)

Atriz
Natalie Portman (Cisne Negro)

Ator
Colin Firth (O Discurso do Rei)

Filme
O Discurso do Rei

sábado, 26 de fevereiro de 2011

sobre o Oscar 2011 - indicados e apostas

Neste domingo (27), às 22h (horário de Brasília), acontece uma das maiores e mais tradicionais premiações do cinema, o Oscar. Nesta 83ª edição, realizada no Kodak Theatre, nos Estados Unidos, os anfitriões da cerimônia são os jovens e belos atores Anne Hathaway e James Franco. No canal do Oscar no youtube, foi lançada uma série de vídeos que mostra o preparamento dos dois, de modo cômico, para o grande dia.

Por causa da longa duração da cerimônia os produtores tentam, a cada edição, fazer algo que chame atenção e evite o tédio. Além de abusarem dos dotes artísticos dos apresentadores, em várias perfomances durante o show, a inovação deste ano envolve a internet (influência de Mark Zuckerberg?). Os produtores apostam nas transmissões pela web - aliás, o banquete dos indicados foi transmitido ao vivo pela primeira vez – e investem no Twitter, colocando os participantes e suas famílias/acompanhantes para postarem na ferramenta.

O site Deadline descobriu a programação completa da cerimônia. James Franco e Anne Hathaway vão abrir o evento com uma pré-apresentação gravada em que aparecem em cenas dos dez indicados ao prêmio de melhor filme. Aí começam as premiações. Segue a ordem:

Tom Hanks entrega os prêmios de melhor direção de arte e melhor fotografia. Justin Timberlake e Mila Kunis apresentarão melhor longa animado e melhor animação em curta-metragem. Javier Bardem e Josh Brolin entregam os Oscars de melhor roteiro original e melhor roteiro adaptado. Russell Brand e Helen Mirren apresentam melhor filme em língua estrangeira. Entra Reese Witherspoon para entregar o prêmio para o melhor ator coadjuvante. Nesta parte rola um discurso de Tony Sherak, presidente da Academia. Nicole Kidman e Hugh Jackman fazem uma performance sobre a evolução do som e apresentam melhor trilha sonora. Marisa Tomei sobe ao palco para falar sobre os prêmios técnicos e científicos. Cate Blanchett apresenta melhor maquiagem e melhor figurino. Em seguida, começam as performances das músicas indicadas ao prêmio de melhor canção original. Jake Gyllenhaal e Amy Adams apresentarão melhor documentário em curta-metragem e melhor curta-metragem. Oprah Winfrey entrega o prêmio para o melhor documentário. Robert Downey Jr. e Jude Law, promovendo o filme Sherlock Holmes 2, apresentam melhores efeitos visuais. Jennifer Hudson entrega o prêmio melhor canção original. Celine Dion canta enquanto rola a sessão In Memoriam. Segue um tributo a Lena Horne feito por Halle Berry. O prêmio para melhor diretor será apresentado por Hilary Swank e Kathryn Bigelow (vencedora da categoria em 2010). Annette Bening fala sobre o Oscar honorário. Jeff Briges apresenta o prêmio de melhor atriz e Sandra Bullock entrega o prêmio de melhor ator. Por fim, Steven Spielberg entrega a estatueta para o melhor filme.

Abaixo, veja a lista das 24 categorias e as minhas apostas em vermelho.

Melhor Filme

127 Horas
A Origem
A Rede Social
Bravura Indômita
Cisne Negro
Inverno da Alma
Minhas Mães e Meu Pai
O Discurso do Rei
O Vencedor
Toy Story 3

Melhor Diretor

David Fincher (A Rede Social)
David O. Russel (O Vencedor)
Darren Aronofsky (Cisne Negro)
Joel e Ethan Coen (Bravura Indômita)
Tom Hooper (O Discurso do Rei)

Melhor Atriz

Annete Benning (Minhas Mães e Meu Pai)
Jennifer Lawrence (Inverno da Alma)
Michelle Williams (Namorados para Sempre)
Nicole Kidman (Reencontrando a Felicidade)
Natalie Portman (Cisne Negro)

Melhor Ator

Colin Firth (O Discurso do Rei)
James Franco (127 Horas)
Javier Bardem (Biutiful)
Jeff Bridges (Bravura Indômita)
Jesse Eisenberg (A Rede Social)

Melhor Ator Coadjuvante

Christian Bale (O Vencedor)
Geoffrey Rush (O Discurso do Rei)
Jeremy Renner (Atração Perigosa)
John Hawkes (Inverno da Alma)
Mark Ruffalo (Minhas Mães e Meu Pai)

Melhor Atriz Coadjuvante

Melissa Leo (O Vencedor)
Helena Bonham Carter (O Discurso do Rei)
Hailee Steinfeld (Bravura Indômita)
Amy Adams (O Vencedor)
Jacki Weaver (Reino Animal)

Melhor Roteiro Original

Christopher Nolan (A Origem)
David Seidler (O Discurso do Rei)
Lisa Cholodenko e Stuart Blumberg (Minhas Mães e Meu Pai)
Mike Leigh (Another Year)
Scott Silver, Paul Tamasy e Eric Johnson (O Vencedor)

Melhor Roteiro Adaptado

Aaron Sorkin (A Rede Social)
Danny Boyle e Simon Beaufoy (127 Horas)
Debra Granik e Anne Rosellini (Inverno da Alma)
Joel e Ethan Coen (Bravura Indômita)
Michael Arndt, John Lasseter, Andrew Stanton e Lee Unkrich (Toy Story 3)

Melhor Animação

Como Treinar Seu Dragão
O Mágico
Toy Story 3

Melhor Direção de Arte

Alice no País das Maravilhas
A Origem
Bravura Indômita
Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 1
O Discurso do Rei

Melhor Fotografia

A Origem
A Rede Social
Bravura Indômita
Cisne Negro
O Discurso do Rei

Melhor Documentário

Exit Through the Gift Shop
Gasland
Lixo Extraordinário
Restrepo
Trabalho Interno

Melhor Filme Estrangeiro

Biutiful (México)
Dente Canino (Grécia)
Em um Mundo Melhor (Dinamarca)
Fora da Lei (Argélia)
Incêndios (Canadá)

Maquiagem

Minha Versão do Amor
Caminho da Liberdade
O Lobisomem

Melhor Trilha Sonora Original

Alexandre Desplat (O Discurso do Rei)
A.R. Rahman (127 Horas)
Hans Zimmer (A Origem)
John Powell (Como Treinar seu Dragão)
Trent Reznor e Atticus Ross (A Rede Social)

Melhor Canção Original

Coming Home (Country Strong)
I See the Light (Enrolados)
If I Rise (127 Horas)
We Belong Together (Toy Story 3)

Melhor Curta-metragem de Animação

Dia e Noite
Let's Pollute
Madagascar, Carnet de voyage
The Gruffalo
The Lost Thing

Melhor Curta-metragem

God of Love
Na Wewe
The Confession
The Crush
Wish 143 

Melhor Curta-metragem de Documentário

Killing in the Name
Poster Girl
Strangers No More
Sun Come Up
The Warriors of Qiugang

Melhor Edição de Som

A Origem
Bravura Indômita
Incontrolável
Toy Story 
Tron - o Legado

Melhor Mixagem de Som

A Origem
A Rede Social
Bravura Indômita
O Discurso do Rei
Salt

Melhores Efeitos Visuais

Além da Vida
Alice no País das Maravilhas
A Origem
Harry Potter e as Relíquias da Morte - Parte 1
Homem de Ferro 2

Melhor Figurino

I Am Love
Alice no País das Maravilhas
Bravura Indômita
O Discurso do Rei
The Tempest

Melhor Montagem

127 Horas
A Rede Social
Cisne Negro
O Discurso do Rei
O Vencedor

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

sobre o filme A Árvore (2010), de Julie Bertucelli

Certamente A Árvore, da diretora francesa Julie Bertucelli (Desde que Otar Partiu), é um dos filmes mais hippies que já vi. Logo as primeiras cenas, em que uma grande casa é carregada em cima de uma carreta pela estrada, já provam isso. Afinal, quem está acostumado a mudar e levar sua própria casa na bagagem. A história, baseada no livro de Judy Pascoe, se passa em um vilarejo na Austrália, onde um casal jovem vive com seus quatro filhos em um casarão de madeira em frente à uma enorme figueira.

A vida deles é perfeita até que uma tragédia acontece quando o pai tem um ataque do coração e morre enquanto dirige sua caminhonete. A família entra em depressão, principalmente Dawn (vivida por Charlotte Gainsbourg), a viúva que mal consegue levantar da cama. Simone, a única menina entre os irmãos, bem moleca e ligada à natureza, consegue enganar sua tristeza ao acreditar que o espírito de seu pai encarnou na árvore. Assim, a pequena passa a maior parte de seu tempo conversando com o seu pai, ou melhor, a árvore, onde dorme, brinca e constrói sua nova moradia.


Ao lado de Charlotte Gainsbourg, a atriz mirim Morgana Davies é quem sustenta essa trama. As personagens destas duas atrizes entram em um jogo de equilíbrio da maturidade e da responsabilidade. Em algumas cenas, a menina parece cuidar da mãe quando deveria ser o contrário. Por exemplo, quando Simone mostra-se preocupada com seu irmão mais novo que ainda não aprendeu a falar, chamando-o de preguiçoso, enquanto a mãe somente o mima. Outro elemento essencial da narrativa é a interferência da natureza na vida dos personagens, seja nas rãs presas no vaso sanitário, no morcego que invade a cozinha, nas raízes da árvore que modificam a estrutura da casa, até o tornado que força a família a se reconstruir em outro lugar. Com A Árvore, Julie, que foi assistente do cineasta polonês Krzysztof Kieslowski, traz um filme influenciado pelo tema da morte, do luto e das consequências para os que continuam vivos.

Assista ao trailer:


terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

sobre o filme Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez

Falando em cinema brasileiro, um dos filmes mais surpreendentes de 2010 foi Dzi Croquettes. Abalada pelo documentário e pela história do grupo teatral, resgatada por dois cineastas, escrevi um texto para o r7.com/cinema, em 18/07/2010, que reproduzo aqui:

Diretores de Dzi Croquettes falam sobre as dificuldades do filme
Tatiana Issa e Raphael Alvarez documentam a memória perdida de grupo teatral brasileiro


O documentário brasileiro Dzi Croquettes, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez entrou em cartaz nesta sexta-feira (16). Porém, a pré-estreia da obra aconteceu na segunda (12) em uma sala de cinema de São Paulo, com a presença dos diretores e parte do elenco. O filme reúne entrevistas com os integrantes originais do célebre grupo (Cláudio Tovar, Ciro Barcelos, Bayard Tonelli, Rogério de Poly e Benedito Lacerda), que contam desde a formação, a censura que sofreram, o sucesso e o dinheiro que ganharam, até a decadência e o fim.

O longa ainda mostra muitos depoimentos de artistas como Liza Minnelli, Betty Faria, Jorge Fernando, Elke Maravilha, Gilberto Gil, Normal Bengell, Nelson Motta, Miguel Falabella, Ney Matogrosso, Marília Pera, Cláudia Raia, entre outros.

Apesar desse formato comum utilizado em documentários, com os entrevistados em frente à câmera, intercalando com imagens de arquivo, os diretores inovam ao colocar a narração em primeira pessoa de Tatiana Issa, cujo pai, Américo Issa, fez parte da equipe técnica do Dzi Croquettes.

- Fiz o documentário com olhos de criança. Eu tenho memória afetiva daquela época, dos bastidores, era tudo tão mágico.

Criado em 1972, o Dzi Croquettes não era um espetáculo gay, ao contrário, ninguém queria ser mulher, como diz Ney Matogrosso. Os homens barbudos e com pernas peludas colocavam roupas femininas para contestar em uma época em que ninguém podia ser diferente, fazendo assim um teatro político com humor.

Poliglota, o grupo criou uma nova liberdade de linguagem teatral, com originalidade e excentricidade. Composto por 13 integrantes, dos quais 8 morreram (4 por Aids, 1 por aneurisma e 3 assassinados), os participantes do Dzi Croquettes se consideravam uma família. A mãe era Wagner Ribeiro, comediante nascido no interior de São Paulo, católico e homossexual, que criou a ideia inicial e inspirou o teatro do improviso e do besteirol no anos 80, influenciando Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, entre outros. Ele também é o dono da famosa frase "só o amor constrói".

Junto com a linguagem de cabaré misturada com o carnaval carioca, entra Lennie Dale, o pai da família, o bad boy da Broadway, que se apaixonou pelo ritmo brasileiro. Grande bailarino, Lennie teve uma vida cheia de polêmicas, foi preso, atropelado, e um dos responsáveis pelo fim do Dzi Croquettes. Foi ele também que trouxe profissionalismo e toda a técnica da dança para o grupo teatral.

Um dos documentários brasileiros mais premiados (já ganhou 11 troféus), Dzi Croquettes foi feito com orçamento zero, conforme afirmaram os diretores Tatiana e Raphael.

- Não sabíamos se o público ia receber bem e fomos recusados por todos os lugares onde pedimos patrocínio. Todos alegavam que o filme não tinha o perfil. Começamos a filmar os depoimentos em julho de 2007 e, em 2009, mandamos um DVD para o Canal Brasil. Eles abraçaram o projeto e possibilitaram a finalização. A primeira exibição do documentário foi no Festival do Rio de 2009.

A dupla de cineastas passou por outros obstáculos além desse, de acordo com a fala de Tatiana.

- Não há imagens do Dzi Croquettes no Brasil. Essas que aparecem no documentário são de uma televisão alemã que filmou o espetáculo em Paris no ano de 1975 e guardou em película. Outro problema era dar a mesma importância para todos os 13 integrantes, que passaram por muitos altos e baixos, e, durante os depoimentos, surgiram personagens novos, todos interessados em contar histórias, muitas histórias. Além das cinco fitas de depoimentos perdidas por causa de um incêndio na produtora.

Com toda essa força de vontade de Tatiana e Alvarez, vale muito a pena conferir o que faz parte da história cultural do Brasil e que, por pouco, não foi esquecida.

cinema brasileiro em 2011

Para o sucesso do cinema brasileiro neste ano eu poderia citar diversos dados e estatísticas que provam o maior número de espectadores interessados nas produções nacionais, além destas estarem ocupando mais salas de cinema no país. Mas acho que basta dar uma olhada na lista abaixo para (pre)ver os filmes que mais prometem semanas em cartaz - pelo menos mais que duas.

JANEIRO

Desenrola, de Rosane Svartman (Downtown/Riofilme)
Com Marcelo Novaes, Letícia Spiler, Pedro Bial, Kayky Brito

Priscila tem 16 anos e é virgem. Quando sua mãe viaja a trabalho por 20 dias, deixando a casa só para ela, tudo pode mudar.

Brasil Animado 3D, de Mariana Caltabiano (Imagem)

Stress e Relax partem em busca do “Grande Jequitibá Rosa” e acabam descobrindo o Brasil.

Lixo Extraordinário, de João Jardim, Karen Harley e Lucy Walker (Downtown)

A relação entre lixo e arte, dois segmentos extremos da sociedade carioca, é o ponto de partida para o documentário. O filme aproxima o universo intelectual à tão diferente realidade das pessoas que colhem o lixo.

Malu de Bicicleta, de Flávio Tambellini (Downtown/Riofilme)
Com Fernanda Freitas, Marcello Serrado

O paulistano Luis, um conquistador, se apaixona perdidamente pela carioca Malu. Eles se casam, mas o relacionamento é abalado pelas suspeitas de que ela tem um amante.

FEVEREIRO

O Samba que Mora em Mim, de Georgia Guerra-Peixe (Pandora)
Com Timbaca, Cosminho, Lili

O ponto de partida é a quadra da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, lugar do reencontro da diretora Georgia com sua própria história.

Sequestro, de Wolney Atalla (Downtown)

Durante quatro anos, uma equipe de filmagem acompanhou de perto as investigações e táticas até então sigilosas da Divisão Anti-Sequestro de São Paulo.

Qualquer Gato Vira-Lata, de Tomas Portella (Disney)
Com Cléo Pires, Malvino Salvador

Tati é abandonada por Marcelo e busca a ajuda de Conrado, um cético professor de biologia. Ele sugere uma mudança de comportamento, baseada nas atitudes dos animais, para que assim ela possa reconquistar o namorado.

Bruna Surfistinha, de Marcus Baldini (Imagem/Riofilme)
Com Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes

Raquel é uma típica menina da classe média paulistana que decide ser garota de programa, usando o nome de Bruna Surfistinha.

A Velha dos Fundos, de Pablo Meza (Panda Filmes)
Com Adriana Aizemberg, Martín Piroyansky, Rafael Sieg

Duas pessoas solitárias vivem anônimas na grande metrópole em uma relação improvável que explora os limites da convivência humana.

Corpos Celestes, de Marcos Jorge e Fernando Severo (Panda Filmes)
Com Dalton Vigh, Rodrigo Cornelsen, Carolina Holanda 

A história do astrônomo Francisco, um homem que dedicou sua vida ao estudo dos astros e deixou de lado sua vida pessoal.

MARÇO

Lope, de Andrucha Waddington (Warner)
Com Alberto Ammann, Pilar López de Ayala, Selton Mello, Sonia Braga

Cercado de aventuras e dividido entre duas paixões, o maior poeta e dramaturga da Espanha, Felix Lope de Vega, coloca sua vida em jogo por amor.

Uma Professora Muito Maluquinha, de André Pinto e Cesar Rodrigues (Downtown)
Com Paola Oliveira, Chico Anysio, Suely Franco

Uma jovem de 18 anos retorna ao interior para lecionar na escola primária, mas seu comportamento de vanguarda não agrada as professoras conservadoras.

Raul Seixas – O início, o fim e o meio, de Walter Carvalho e Evaldo Mocarzel (Paramount)

Documentário sobre a vida e obra de Raul Seixas.

Família Vende Tudo, de Alain Fresnot (PlayArte)
Com Luana Piovani, Lima Duarte, Caco Ciocler, Vera Holtz

Família em dificuldades financeiras faz com que a filha engravide de cantor famoso.

VIPs - Histórias Reais de um Mentiroso, de Mariana Caltabiano (Imovision)

Documentário sobre Marcelo Nascimento, que ao longo de vários anos assumiu diversas identidades, chegando a enganar um grupo de celebridades.

Bróder, de Jeferson De (Sony)
Com Caio Blat, Jonathan Haagensen, Silvio Guindane

A história de três amigos da periferia de São Paulo e suas diferentes escolhas de vida.


Nana Caymmi em Rio Sonata, de Georges Gachot (Imovision)

Documentário sobre Nana Caymmi, personagem-chave da história da música brasileira dos últimos cinquenta anos.

Rosa Morena, de Carlos Augusto de Oliveira (Europa)
Com Vivianne Pasmanter, Bárbara Garcia

Um homem gay dinamarquês tenta adotar uma criança brasileira.

VIPs, de Toniko Melo (Universal)
Com Wagner Moura

A história de um farsante cujo golpe mais famoso foi ter se passado pelo irmão do dono da empresa aérea Gol durante o carnaval do Recife.

Mamonas pra sempre!, de Claudio Khans (Europa)

A história da banda Mamonas Assassinas, cuja meteórica carreira foi interrompida por um acidente aéreo.

ABRIL

As Mães de Chico Xavier
, de Glauber Filho e Halder Gomes (Paris)
Com Nelson Xavier, Herson Capri, Via Negromonte, Caio Blat

Baseado em fatos reais, o filme conta a história de três mães cujas realidades se transformam quando recebem conforto e reencontram a esperança de vida através do médium.

Rio, de Carlos Saldanha (Fox)
Vozes: Jesse Eisenberg, Anne Hathaway, Rodrigo Santoro


Um papagaio tenta viajar dos EUA para o Brasil. Com exibição em 3D.

Amor?, de João Jardim (Copacabana)
Com Lilia Cabral, Eduardo Moskovis, Letícia Collin, Julia Lemmertz

Uma mistura de documentário e ficção em que atores e atrizes interpretam o depoimento de pessoas reais.

Cilada.com, de José Alvarenga Jr. (Downtown)
Com Bruno Mazzeo, Fernanda Paes Leme, Mauro Mendonça

A namorada de Bruno descobre que ele a traiu. Como vingança ela resolve colocar no YouTube um vídeo de uma transa do casal.

Não se Preocupe, Nada Vai Dar Certo, de Hugo Carvana (Imagem)
Com Tarcísio Meira, Flávia Alessandra, Antonio Pedro, Gregório Duvivier

O ator Lalau Velasco recebe uma proposta de R$100 mil para representar um personagem na vida real.

Marcha para a Vida, de Jessica Sanders (Europa)
Com Oshri Cohen, Zohar Shtrauss, Michael Moshonov

Documentário que acompanha a jornada anual realizada por milhares de jovens judeus de todo o mundo pelo mesmo caminho que milhões de judeus atravessaram no passado, mantendo acesa a memória das vítimas do Holocausto.

MAIO

Não se Pode Viver sem Amor, de Jorge Duran (Pandora)
Com Cauã Reymond, Simone Spoladore, Fabiula Nascimento e Ângelo Antonio

Gabriel chega ao Rio para encontrar seu pai, que o abandonou anos atrás. Ao lado da mãe, ele atravessa a cidade encontrando personagens em situações-limite.

JUNHO

Estamos Juntos, de Toni Venturi (Imagem)
Com Dira Paes, Cauã Reymond, Leandra Leal

Uma médica descobre que está com uma doença fatal.

JULHO

Assalto ao Banco Central, de Marcos Paulo (Fox)
Com: Milhem Cortaz, Lima Duarte, Giulia Gam

Inspirado na história real do crime ocorrido em Fortaleza, em 2005, tido como o maior assalto a um banco no Brasil.

AGOSTO

Capitães da Areia, de Cecília Amado (Imagem)
Com Jean Luis Amorim, Ana Graciela, Robério Lima

A história de um bando de meninos de rua na Bahia em 1950. Baseado na obra de Jorge Amado.

O Palhaço, de Selton Mello (Imagem)
Com Selton Mello, Paulo José

No interior de Minas Gerais, palhaço vive crise existencial e artística.

SETEMBRO

O Homem do Futuro, de Cláudio Torres (Paramount)
Com Wagner Moura, Alinne Moraes

O cientista Zero desenvolve uma máquina do tempo e volta ao passado para mudar seu destino.

Lutas, de Luiz Bolognesi (Europa)
Vozes: Selton Mello, Camila Pitanga

Quatro episódios da História do Brasil, desde antes da chegada dos europeus até o ano 2080, contados por um personagem que está vivo há 600 anos.

OUTUBRO

Dois Coelhos, de Afonso Poyart (Imagem)
Com Alessandra Negrini, Fernando Alves Pinto, Caco Ciocler

Espremido entre a criminalidade e o poder político corrupto, Edgar resolve fazer justiça com as próprias mãos, elaborando um plano que colocará os criminosos em rota de colisão com políticos gananciosos.

DEZEMBRO

Billi Pig, de José Eduardo Belmonte (Imagem)
Com Selton Mello, Grazi Massafera
Um malandro vendedor de seguros e sua namorada são perseguidos por um traficante.

sobre o filme José e Pilar (2010), de Miguel Gonçalves Mendes

O documentário português José e Pilar certamente é um dos filmes mais emocionantes que já vi até então. Como grande parte dos espectadores, eu conhecia as obras do escritor português Saramago, mas nada de sua vida pessoal, muito menos sabia da influência de sua esposa, a espanhola Pilar del Río. Sem invadir a privacidade, o filme mostra a relação deles de um modo muito espontâneo e doce. Chorei muito durante a exibição pois não conseguia deixar de pensar na morte de Saramago e como Pilar deve ter sofrido. O filme entra bastante na questão da morte e o escritor fala abertamente sobre isso. Já Pilar prefere falar sobre a vida pois, segundo o próprio Saramago: "eu tenho ideias para a arte, Pilar tem ideias para a vida".


Abaixo, reproduzo uma nota que escrevi para o r7.com, em 14/08/2010, sobre a pré-estreia do filme na Festa Literária Internacional de Paraty:

Somente 40 minutos do documentário José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, foram exibidos no último sábado (7), na 8ª Festa Literária Internacional de Paraty. A obra foi filmada em três anos e, antes de ser editada, tinha 200 horas de gravação. O cineasta português participou de debate após a exibição do filme, que mostra o relacionamento do escritor José Saramago com sua esposa Pilar del Río.

Morto aos 87 anos em sua casa, o longa mostra Saramago em momentos reflexivos, falando sobre a morte, pelo fato de “ter estado e já não estar” e seu desejo de “morrer lúcido e de olhos abertos”. Apesar de triste, o filme também é otimista e bem-humorado, com cenas em que ele aparece jogando Paciência em seu computador.

Mendes acompanha os anos de lançamento do livro A Viagem do Elefante e a agenda lotada de Saramago, que ao ser questionado por que não diminui o ritmo das viagens responde que “o tempo aperta”. Ele confessa estar farto de dar entrevistas, das sessões de autógrafos intermináveis enquanto algumas cenas da coletiva feita no Brasil são exibidas.

O cineasta português estreou no cinema em 2002, com o curta-metragem documental D. Nieves, sobre a relação entre Galiza e Portugal. Saramago gravou uma narração para este filme e logo foi convidado pelo diretor para ter sua vida retratada, mas recusou. Em 2004, Mendes lançou Autografia, documentário sobre o pintor surrealista e poeta Mário Cesariny e o mostrou para Saramago ainda na insistência do convite. O escritor gostou do filme e revelou para Mendes que tinha medo de não ser tão interessante quanto o poeta.

O filme não possui entrevistas e, dificilmente, Saramago fala diretamente para a câmera. Mendes acompanhou o escritor em uma má fase, em que estava adoecido. O cineasta se mostrou inconformado pelo fato do presidente de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, não ter comparecido ao enterro.

O escritor tinha 60 anos quando começou a escrever. Comunista, ateu, não pertencia à elite portuguesa. Sua mulher Pilar é peça-chave na divulgação e na internacionalização de sua obra. Eles se conheceram em 1986, no lançamento de A Jangada de Pedra. O foco principal do filme é o amor vivido pelo casal, conta o diretor.

- Ele era o português melancólico e ela a força espanhola. No início, o filme se chamaria União Ibérica, como uma metáfora do casal, mas José e Pilar é mais simples, como eles eram. Não quis fazer um filme sobre a obra de Saramago, mas da intimidade de um casal extraordinário. Outros documentários já exibidos na televisão mostram sua obra. Eu só não queria que fosse tão cronológico.

O cineasta disse que o filme é sobre o comportamento dos dias de hoje e, principalmente, sobre a morte.

- Eu tenho um pânico imenso de morrer. Acho que por isso faço filmes com essa temática, na tentativa da pacificação.

José e Pilar foi recusado pelo Instituto de Cinema de Portugal para ganhar recursos. Restou a Mendes mandar um e-mail para as produtoras El Deseo, de Pedro Almodóvar, e o2 Filmes, de Fernando Meirelles, que toparam e se juntaram a sua própria, JumpCut. O cineasta revela o quanto é difícil fazer cinema em Portugal.

- O filme ficou muito caro por causa de todas as viagens que fizemos ao lado de Saramago. Estou com dívidas de 100 mil euros e tive que quitar a minha casa.

Para ter o filme que queria, Mendes confessa que precisava de mais seis meses para editar. O primeiro corte tinha seis horas e foi condensado em duas.

- Assim fica difícil saber se o que inclui no documentário é bom. Para construir confiança com o casal, passei muito tempo filmando. Gravamos seis horas de reunião dele com a editora, mas não usamos nenhum minuto. Era só para fazer eles esqueceram a câmera.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

sobre a 14ª Mostra de Cinema de Tiradentes

Estive pela primeira vez na Mostra de Cinema de Tiradentes e me arrependi por nunca ter ido antes, com a esperança de voltar mais vezes. De 21 a 29 de janeiro de 2011, o evento inaugura os festivais brasileiros de cinema e recebe por volta de 30 mil pessoas (Tiradentes, cidade histórica de Minas Gerais, tem 5 mil habitantes). Os homenageados deste ano foram o cineasta Paulo Cezar Saraceni e o ator Irandhir Santos, personalidades de duas gerações distintas do cinema brasileiro.

No site oficial, o curador Cléber Eduardo publicou um texto sobre o tema desta 14ª edição, "Inquietações Políticas", em que diz:
Não se trata apenas de filmes com temática política, mas obras com uma política da representação e de construção de seus mundos, seus personagens, ora apenas expondo mal estares sem se preocupar com relações mais amplas desse sofrimento, ora promovendo com a própria linguagem uma reação a seu entorno

No último dia do evento, o filme Os Residentes, de Tiago Mata Machado, venceu a Mostra Aurora - dedicada a novos cineastas. O melhor curta-metragem da Mostra Foco, eleito pelo júri da crítica, foi Vó Maria, de Thomas von der Osten. Já o júri Popular elegeu Traz Outro Amigo Também, de Frederico Cabral, como melhor curta-metragem. Pelo voto popular, o melhor longa-metragem desta edição foi Solidão e Fé, de Tatiana Lohmann.

Para saber mais sobre o que aconteceu durante a Mostra (afinal, são muitos filmes, oficinas, debates, entrevistas) basta entrar no site www.mostratiradentes.com.br e clique aqui para ver muitas fotos.
Lá, também há uma Carta de Tiradentes, escrita e assinada por profissionais respeitadíssimos da área.
Se você gosta de cinema brasileiro vale muito a pena ir até Tiradentes. Além da cidade ser linda, você sairá de lá respirando essa arte.

Abaixo, veja um histórico do que já rolou na Mostra de Cinema de Tiradentes:

1ª edição (1998) - homenageados: Carla Camurati e Paulo José / 21 sessões de cinema para 6.400 pessoas / 17 longas e 6 curtas / exposição de fotos de Humberto Mauro / Curadoria: Mônica Cerqueira

2ª edição -
homenageados: Denoy de Oliveira (in memorian), Helvécio Ratton e Patrícia Pillar / 40 sessões de cinema para 10.800 pessoas / 22 longas e 27 curtas / exposição de fotos de Silvino Santos / Curadoria: Érika Bauer

3ª edição -
homenageado: Carlos Reichenbach / Melhor longa: Nós que aqui estamos por vós esperamos, de Marcelo Masagão / Melhor curta: O oitavo selo, de Tomás Enrique Creus / Curadoria: Francesca Azzi

4ª edição -
tema: Mulheres em Cena / homenageadas: Ana Carolina e Odete Lara / Melhor longa: O auto da compadecida, de Guel Arraes / Melhor curta: A invenção da infância, de Liliana Sulzbach / Melhor vídeo: Secos e molhados, de Armando Mendzz / Curadoria: Francesca Azzi

5ª edição -
tema: Cinema de Ator e Cinema de Autor / homenageados: Júlio Bressane e José Lewgoy / Melhor longa: Lavoura Arcaica, de Luiz Fernando Carvalho / Melhor curta: Onde Andará Petrúcio Felker?, de Allan Sieber / Melhor vídeo: Oscar Araripe, de César Tolentino / Curadoria: Francesca Azzi

6ª edição -
tema: Heróis do cotidiano no cinema brasileiro / homenageados: Gianfrancesco Guarnierie e Eduardo Coutinho / Melhor longa: Separações, de Domingos de Oliveira / Melhor curta: A Lasanha Assassina, de Ale McHaddo / Curadoria de Longas: Roberta Canuto / Curadoria de Curtas:– Daniella Azzi

7ª edição -
tema: Modos narrativos do cinema brasileiro / homenageados: Nelson Pereira dos Santos e Paulo César Pereio / Melhor longa: O Preço da Paz, de Paulo Morelli / Melhor curta: Cega Seca, de Sofia Federico / Curadoria de Longas:– Francesca Azzi / Curadoria de Curtas:– Daniella Azzi

8ª edição - tema: O primeiro cinema / homenageados: Walter Lima Jr. e Cao Guimarães / Melhor longa: Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo / Melhor curta: O Último Raio de Sol, de Bruno Torres / Curadoria de Longas:– Francesca Azzi / Curadoria de Curtas:– Daniella Azzi

9ª edição - tema: Livre Pensar / homenageados: Ruy Guerra e Eder Santos / Melhor longa: Depois Daquele Baile, de Roberto Bomtempo / Melhor curta: Eletrodoméstica, de Kléber Mendonça Filho / Curadoria de Longas:– Francesca Azzi / Curadoria de Curtas:– Daniella Azzi

10ª edição - tema: Vitalidade do cinema brasileiro / homenageados: Beto Brant, Matheus Nachtergaele, Lázaro Ramos e Fábio Carvalho / Melhor longa: Noel, Poeta da Vila, de Ricardo van Steen / Melhor curta: Vida Maria, de Márcio Ramos / Curadoria de Longas: Cléber Eduardo / Curadoria de Curtas: Cléber Eduardo e Eduardo Valente

11ª edição - tema: Juventude em Trânsito / homenageados: Rosanne Mulholland e João Miguel / Curadoria de Longas: Cléber Eduardo / Curadoria de Curtas: Cléber Eduardo e Eduardo Valente

12ª edição - tema: O personagem e o seu lugar / homenageado: José Eduardo Belmonte / Curadoria de Longas: Cléber Eduardo / Curadoria de Curtas: Cléber Eduardo e Eduardo Valente

13ª edição - tema: Paradoxos do contemporâneo / homenageado: Karim Aïnouz / Curadoria de Longas: Cléber Eduardo / Curadoria de Curtas: Cléber Eduardo e Eduardo Valente

22 filmes que prometem

O Time Out London selecionou 22 longas-metragens para cinéfilos e todo o público ficar ligado neste ano. Talvez alguns cheguem ao Brasil somente em 2012. Abaixo, veja a lista feita pelos críticos do site:

1) O Congresso, de Ari Folman


Após o sucesso do filme Valsa com Bashir (2008), animação para adultos indicada ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o cineasta israelense Ari Folman promete seguir com o mesmo estilo em sua nova produção. O Congresso é adaptação de um conto do escritor polonês Stanislaw Lem, conhecido pelo romance de ficção científica Solaris (1961). A trama se passa em uma realidade distópica, em que drogas alucinógenas desempenham um papel importante no cotidiano. Boatos dizem que, em 2010, uma primeira versão do filme foi exibida para curadores do Festival de Cannes.

Assista a trechos do filme:



2) A Pele Que Habito, de Pedro Almodóvar


Após um intervalo de dez anos, o cineasta espanhol volta a trabalhar com o galã Antonio Banderas - a última parceria foi em Ata-me! (1990). Nesta produção, o ator viverá um cirurgião plástico que trabalha na criação de uma pele com a qual poderia salvar sua mulher Eva (Elena Anaya), vítima de um acidente de carro. A história é inspirada no romance Tarântula, do escritor francês Thierry Jonquet, e parte das filmagens ocorreu em Santiago de Compostela, na Espanha. A Pele Que Habito promete ser um dos filmes mais perturbadores de Almodóvar e tem sua data de estreia prevista para março, na Espanha, e provavelmente estará no Festival de Cannes em maio.

3)
The Deep Blue Sea, de Terence Davies

A nova produção de um dos maiores cineastas britânicos vivos, Terence Davies, é uma grande promessa para 2011. O filme marca a versão altamente personalizada de Davies da peça de teatro escrita por Terence Rattigan, de 1952, que já recebeu uma adaptação para as telas em 1955 pelo diretor russo expatriado, Anatole Litvak. Sobre um triângulo amoroso em meio às ruínas do pós-guerra em Londres, o longa é primeiramente uma ode à expressão feminina suprimida e, naturalmente, possui uma memória visual rapsódica, característica de Davies. A atriz Rachel Weisz interpreta o papel principal da socialite Hester Collyer, casada com um juiz da alta corte e se apaixona pelo ex-piloto Freddie Page. Tom Hiddlestone e Simon Russell Beale vivem os homens que ela precisa escolher.

4)
Melancholia, de Lars von Trier

Elenco do filme ao lado do diretor (de vermelho)


Este parece ser o projeto mais ambicioso tecnicamente do diretor dinamarquês Lars von Trier até hoje. Após tanto fugir dos valores primitivos de produção de seus primeiros trabalhos, como Os Idiotas (1998), Trier parece ter voltado a esse estilo original. Na trama de Melancholia, um grupo de pessoas infelizes está fugindo da Terra devido ao mero fato de que ela está em rota de colisão com outro planeta. Kirsten Dunst, que, em uma entrevista, descreveu Trier como "o melhor diretor com o qual ela já trabalhou", interpreta o papel principal. Ao lado dela estão Charlotte Gainsbourg, Kiefer Sutherland, Charlotte Rampling, John Hurt, Stellan Skarsgard, Corbet Brady, entre outros. No Reino Unido, a estreia está agendada para o dia 1º de julho de 2011.

5)
A Dangerous Method, de David Cronenberg


Aqueles que esperam a volta de David Cronenberg às suas raízes de horror devem se preparar para a decepção. Nesta produção, o cineasta se vira para o Reino Unido em uma imponente cinebiografia histórica sobre as relações turbulentas entre o psiquiatra Carl Jung, seu respeitado mentor Sigmund Freud e a perturbada mulher que se coloca entre eles. Terceira colaboração com Cronenberg, Viggo Mortensen estrela como Freud, ao lado de seu parceiro de Senhores do Crime (2007), Vincent Cassell, como o analista austríaco Otto Gross. Completa o elenco Keira Knightley, como o interesse amoroso, e Michael Fassbender, como Jung, além de diversos talentos europeus nos papéis menores.

6) Wuthering Heights, de Andrea Arnold

O romance O Morro dos Ventos Uivantes ganhou milhares de versões cinematográficas. A última foi em 1992, com Ralph Fiennes e Juliette Binoche

Duas obras literárias das irmãs Brontë vão ganhar versões cinematográficas em 2011: além da trama sobrenatural Jane Eyre, dirigida por Cary Fukunaga, o clássico O Morro dos Ventos Uivantes será filmado por Andrea Arnold, diretora de Fish Tank (2009). Para aqueles que não conhecem, a história desenrola-se entre o mal-humorado Heathcliff, que será vivido pelo novato James Howson, o primeiro ator negro a interpretar o papel, que tem uma relação romântica carregada e rebelde com a senhorita certinha Catherine Earnshaw, interpretada pela igualmente desconhecida Kaya Scodelario, da série britânica Skins. Qualquer pessoa familiarizada com os trabalhos anteriores de Andrea sabe que este não será um tradicional filme no estilo BBC: pode esperar performances naturalistas, muitas dramatizações pesadas e um inferno a cada pontapé emocional.

7) Coriolanus, de Ralph Fiennes



Para sua estreia na direção, Ralph Fiennes reúne uma manta de retalhos, com diversos homens carrancudos e musculosos, em uma adaptação moderna de uma das tragédias de Shakespeare menos conhecidas, encharcada de sangue. Fiennes faz o papel principal do general de batalhas, que se recusa a fazer o jogo político e provoca uma revolta nas ruas de Roma. Neste caso, a majestade do mundo antigo foi trocada por um campo de batalhas do Leste Europeu. Fiennes rodou o filme em Belgrado e traz um elenco cheio de testosterona, com Gerard Butler, William Hurt, Eddie Marsan e Brian Cox. O filme terá sua estreia mundial em Berlim, em fevereiro deste ano.

8)
A Árvore da Vida, de Terrence Malick


Seis anos após seu último filme, O Novo Mundo (2005), Terrence Malick volta às telas com a super produção A Árvore da Vida, estrelada por Brad Pitt, Sean Penn, entre outros novos talentos. A trama traz um conto da juventude e da inocência perdida, do envelhecimento e arrependimento, modernidade e milagres dos anos 1950 na América do Meio-Oeste. O novo filme de Malick retorna ao período e local de sua primeira e melhor obra, Terra de Ninguém (1973). No trailer, dá para perceber que a fotografia é surpreendente e que as atuações são sólidas e profundas. Previsto para estrear em maio.

Assista ao trailer:



9) The Woman in the Fifth, de Pawel Pawlikowski

Ethan Hawke ao lado do diretor, no set de filmagens

Pawel Pawlikowski, cineasta que começou com documentários e passou para a ficção, retorna aos cinemas com a adaptação de um romance escrito por Douglas Kennedy, em 2007, sobre um ‘flâneur’ casado e professor de cinema (Ethan Hawke), que se muda para Paris após um escândalo em sua casa, em Ohio, e é rapidamente seduzido por uma misteriosa emigrante húngara, interpretada por Kristin Scott Thomas. O filme foi rodado em Paris e não tem previsão de estreia.

10)
Senna, de Asif Kapadia


Os brasileiros foram privilegiados em assistir ao documentário Senna antes de todos. Lá fora, o filme ganhou como Melhor Documentário no Festival de Sundance, agora em janeiro, os japoneses poderão conferir logo após o Grand Prix do Japão, e, no Reino Unido, deve entrar em cartaz em julho. O documentário sobre a vida de Ayrton Senna, que morreu no GP de San Marino em 1994, é extremamente emocionante. Além de mostrar o grande ser humano e o herói brasileiro que ele foi, é um retrato de um homem que se esforçou para ser campeão mundial e que constantemente lidava com a questão da morte.

11)
We Need to Talk About Kevin, de Lynne Ramsay


A diretora Lynne Ramsay impulsionou sua carreira com dois filmes notáveis: Ratcatcher (1999) e Movern Callar (2002). Porém, por causa do seu estilo cinematográfico meio intransigente ela perdeu o direito de dirigir o filme Um Olhar do Paraíso, que ficou nas mãos de Peter Jackson. Agora Lynne está de volta em uma adaptação assombrosa do romance Nós precisamos falar sobre Kevin, de Lionel Shriver, que narra as consequências de um massacre em uma escola de ensino médio a partir da perspectiva da mãe do assassino.

12)
W.E, de Madonna

Abbie Cornish está no elenco de W.E

A primeira incursão de Madonna como cineasta, com a comédia Filth and Wisdom (2008), foi uma calamidade, então estamos diante de uma segunda chance. W.E tem sido descrito como um drama romântico em dois níveis, que estabelece o namoro entre Edward VII e Wallis Simpson, contraposto ao de um casal contemporâneo. Certamente soa ambicioso.

13)
The Future, de Miranda July


Em 2005, a artista Miranda July dirigiu a comédia colorida Eu, Você e Todos Nós, e agora lança sua tardia continuação, The Future, que passou por Sundance e, em breve, estará no Festival de Berlim. Miranda descreve seu filme como uma comédia dramática sobre um casal, por volta dos seus 30 anos, cujo futuro é colocado em perigo devido ao seu “estado de existência dos sonhos".

14)
Super 8, de J.J. Abrams


Em um dos grandes golpes de marketing dos últimos tempos, o primeiro trailer misterioso dessa produção de Spielberg, dirigida por JJ Abrams (criador da série Lost), foi divulgado na internet em maio de 2010, antes mesmo da fotografia principal ter sido feita. As primeiras imagens do longa foram divulgadas em um comercial de 30 segundos exibido no intervalo do Super Bowl. A produção é ambientada no fim dos anos 70 e gira em torno de um grupo de seis garotos que uma noite vão a uma área rural tentar fazer seu próprio filme de terror com uma câmera super 8. Enquanto a câmera está ligada, acontece uma tragédia: um caminhão e um trem colidem. E na cena do acidente surge uma criatura não-humana.

15)
Your Highness, de David Gordon Green


O diretor David Gordon Green e duas das estrelas (James Franco e Danny McBride) da comédia mais maluca de 2008, Segurando as Pontas, se reúnem para esta nova insanidade medieval. O que é mais notável é que eles conseguiram arrastar queridinhos do Oscar, como Natalie Portman, Damian Lewis e Toby Jones, para essa fantasia doida. Franco interpreta Fabious, um jovem príncipe, cuja noiva (Zooey Deschanel) é sequestrada por forças obscuras, mandando-o em uma missão para resgatá-la acompanhado de seu irmão maconheiro Thadeous (McBride).

Assista ao trailer:




16) Cowboys and Aliens, de Jon Favreau


O título pode soar estranho, como um “lançamento direto em DVD”, mas há bastante expectativa e talento envolvido nessa produção. Para começar, é dirigido por Jon Favreau, que alcançou sucesso por Homem de Ferro. O roteiro foi escrito por Roberto Orci e Alex Kurtzmann, que fizeram renascer a franquia Star Trek (mas também escreveram Transformers: A Vingança dos Derrotados). E o elenco é um sonho: o James Bond e o Indiana Jones juntos e nomes como Paul Dano, Sam Rockwell, Clancy Brown e Keith Carradine, e cenários explosivos que vão dar muito trabalho a Harrison Ford e Daniel Craig. Portanto, mesmo se o filme for apenas um bando de foras da lei grisalhos trocando tiros em algumas luzes piscando no céu, não há razão para ele falhar.

17)
The Rum Diary, de Bruce Robinson


Outro projeto de longa gestação, desta vez para o escritor-diretor Bruce Robinson e o astro Johnny Depp, cuja amizade com o falecido encrenqueiro Hunter S Thompson levou a esta adaptação de uma de suas obras mais amadas. No longa, Depp interpreta Paul Kemp, um jornalista americano que viaja para Porto Rico para escrever.

18)
Tintin and the Secret of the Unicorn, de Steven Spielberg


Você espera três anos para um novo filme de Steven Spielberg e aí dois surgem juntos de uma vez. Spielberg retorna com uma divertida produção infanto-juvenil, adaptando Tintin e o Segredo do Unicórnio. Como tem sido amplamente divulgado, Tintin marca a primeira colaboração entre Spielberg e seu oposto Peter Jackson, em uma versão animada da série de aventura adolescente pré-guerra de Hergé. O estilo de animação pode ser um pouco enjoado de se ver, mas com todo esse talento envolvido (deve-se mencionar também os escritores Edgar Wright e Joe Cornish e os dubladores Andy Serkis, Daniel Craig, Jamie Bell e Simon Pegg) será um sucesso para todas as idades.

19)
War Horse, de Steven Spielberg


War Horse é mais sombrio: adaptado do romance best-seller de Michael Morpurgo, que narra o conto de um menino que vai para as trincheiras de Flandres, em 1915, para resgatar seu amado cavalo. O filme conta com um extraordinário elenco de atores britânicos, incluindo David Thewlis, Emily Watson, Peter Mullan e Tom Hiddleston, e promete ser um favorito ao Oscar.

20)
Tinker, Tailor, Soldier, Spy, de Tomas Alfredson


Gary Oldman vive o icônico espião George Smiley no novo filme do diretor de Deixe Ela Entrar (2008), Tomas Alfredson, sobre o clássico da Guerra Fria do escritor John Le Carré. Apoiado por um elenco poderoso, incluindo Colin Firth, Kathy Burke, Stephen Graham e Mark Strong, Oldman vai ter que se superar em um papel antes desempenhado por Alec Guiness. Em uma entrevista, Colin Firth mostrou confiança: "Guinness era um gênio incrível, mas eu acho que Gary fez absolutamente do seu modo".

21)
Shame, de Steve McQueen


Por um longo tempo, muitos pensaram que o artista Steve McQueen estivesse planejando uma continuação de seu polêmico Hunger (2008), um retrato da greve de fome de Bobby Sands, ativista do IRA (Exército Republicano Irlandês), com um filme sobre o pioneiro do afrobeat nigeriano Fela Kuti. Mas veio à tona que McQueen está trabalhando novamente com a estrela Michael Fassbender, neste drama contemporâneo sobre um novaiorquino de 30 e poucos anos cuja vida sexual torna-se confusa quando sua irmã mais nova, Carey Mulligan, vai morar com ele.

22)
Hanna, de Joe Wright


Joe Wright afasta-se dos dramas Orgulho e Preconceito (2005) e Desejo e Reparação (2007) para dirigir um thriller de ação. Hanna traz Saoirse Ronan como uma adolescente assassina que se esconde em um terreno baldio na Finlândia com seu pai e professor, interpretado por Eric Banna. Quando a CIA é notificada de seu paradeiro, a personagem de Cate Blanchett sugere que pode haver mais em Hanna do que apenas uma simples máquina de assassinato. O filme está programado para lançamento em 11 de abril nos EUA e no Reino Unido, sem previsão para passar em festivais.

Assista ao trailer:



Fonte: Time Out London